sábado, 30 de janeiro de 2010

Meia noite

Na casa da frente, do outro lada da rua, há uma janela iluminada...
O ar está tão frio que afasta logo a ideia de sair da sala. Silêncio absoluto na noite.

Na casa da frente , do outro lado da rua, há uma janela iluminada...

Estendo as pernas cruzadas sobre a mesa e começo a povoar aquele espaço, entre mim e a casa da frente - todas as mortes do mundo, todas as tristezas dos desesperados... todo o amor dos amantes...

Como será estar prestes a explodir sobre um montão de gente? Como serão essas despedidas? Porque me escolheram a mim para esse fim e não outro que se senta a meu lado?

Na casa da frente, do outro lado da rua, há uma janela iluminada...

O olhar exangue da corça sob as garras do leão... A felicidade das crias perante uma nova refeição, que lhes assegura a sobrevivência por mais uma dia...

Na casa da frente do outro lado da rua, há uma janela iluminada...

Encolho as pernas e volto-me na cadeira.
Olho o filme da televisão. Não. São horas de dormir...
O tempo retoma o seu ritmo.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

hoje o vento

Hoje o vento deixou em paz os ramos das árvores já quase sem folhas. Talvez fosse bom ir até ao mar e ver como as vagas descansam da agitação dos últimos dias...
Eu sei, eu sei que devia estar longe, que devia percorrer caminhos que me foram apontados insistentemente, continuar a luta...
Em vez disso, sento-me no sofá, desconfortavel no corpo e na alma, e olho para as varandas vazias das casas em frente...
Vem-me à cabeça um pensamento que escrevi na parede: ' o adiamento é a forma mais mortal (e mortífera) da negação'.
Assim se traça um destino... assim se vive uma vida...

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Mudança ou incerteza?

Na minha infância tinha tantas certezas!... Tudo parecia indestrutível e seguro.
Agora só se fala de mudança. Não de uma mudança verdadeira, profunda, que essa é difícil de fazer como tudo. Não, trata-se de uma mudança superficial, uma mudança do que é visível e aparente, e as pessoas andam de um lado para o outro confusas e atrasadas para apanhar o comboio da última moda...

Na minha infância havia o Verão e o Inverno e entre eles a Primavera e o Outono...
Agora, em Julho, o sol brilha como se fosse Fevereiro, de um modo tímido e longínquo.


Deverei ir para a praia em Fevereiro?

sábado, 21 de março de 2009

Ronaldo, queres um desconto?

Hoje, sonhei com o Cristiano Ronaldo.
Sonhei com ele, como um bom rapazito que ele há-de ser, por baixo daquelas vestes de milionário e de estrela de futebol.
Sonhei que estávamos numa tasquinha a jantar e que ele falava com o dono do lugar como um amigo dele, sem cerimónias.
Eu estava na minha mesa, e ouvia-os divertida com as piadas que eles diziam um ao outro.
Nada daquelas multidões a pedir autógrafos e das atitudes estudadas das estrelas, sejam do que for, que só dizem o que já ensaiaram dizer em frente ao espelho.
Pensava: Que maravilha! Assim é que havia de ser sempre!
O Cristiano levantou-se, por fim, pagou e ia já a sair quando o dono da tasca gritou para ele:
- Ronaldo, queres um desconto?
E ambos riram às gargalhadas...

sábado, 3 de janeiro de 2009

Manhã

" 26 de Dezembro de 2008

Quando estou em Aveiro, sonho com este esplendor no parque, manhãs de sol na relva verde no meio do silêncio dos pássaros.
Ainda há folhas secas nas árvores.
Alguém escreveu no tronco de uma: ZIZ.
Respiro fundo.
Aqueço-me ao sol de inverno."

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

retomando a escrita...

Estou tão longe desta coisa da escrita que já não sei se sou capaz de dizer o que quero!...
A minha vida passa-se entre coisas muito concretas, a realidade do dia a dia, sem me dar tempo a uma reflexão, a um dobrar sobre mim própria e a realidade que decorre independente de mim, inexoravelmente...
Sonhos? Esses continuam a fluir, sempre impossíveis, sempre tão distantes que nem sei se realmente os quero ou se tudo isto não é uma forma grotesca de ir vivendo, lambendo as feridas.

Ontem, quando vinha de comprar o pão, um rapaz bateu-me com o carro no cotovelo esquerdo e deixou-me a tremer de dor. Tenho que aprender a defender-me e a aproveitar o que esta casa tem de bom, mesmo que fique num sítio realmente perigoso para quem anda a pé.

sábado, 24 de maio de 2008

anonimato

Nada pode ser mais anónimo que ser igual a tudo o resto ...
(assim me escondo)